domingo, 24 de janeiro de 2010

Sabor de Mãe

Quando a gente viaja para trabalhar temos que estar com o peito aberto para novas descobertas, encontros, desafios... novos rostos, novas adaptações, novos espaços, outros cantos. Experimentamos muitas novidades em Campo Grande/MS. Encontramos outros grupos, outros produtores locais, tantos fazedores de teatro, técnicos generosos, outros jornalistas, outra elevada temperatura... outros sabores. Em Cuiabá/MT tantos novos outros vieram ter conosco. Porém - e sempre tem um porém, como já dizia o Plinio - algo não foi tão novo assim: a comida! Sabe aquela comida feita por nossas avós, nossas mães? Aquela comida que tem como ingrediente maior uma simplicidade afetuosa? Alquimia! Avó, alimento, afeto, simplicidade, sabor, mãe, alma, magia... Encontramos tudo isso no restaurante Coração de Mãe coordenado pela Dona Lu e suas filha Yolanda e Natalia. Um lugar que parece muito com a antiga casa da minha avó. Um lugar com um quintal grande, cheio de plantas, frutas, várias samambaias e um sabor que me leva para casa e me faz recarregar as energias físicas e espirituais.

NeiCirqueira - Ator do Concreto

sábado, 23 de janeiro de 2010

Convite

Foi comentado por aqui que na primeira apresentação do Diário do Maldito, em Campo Grande, uma das pessoas do público tirou a roupa junto aos atores, no momento do depoimento pessoal. Gostaria de falar um pouco sobre isso...

Temos momentos históricos e preciosos no Diário relacionados ao público. Em Macapá, durante os batuques e dança do Poeta, o publico começou a bater palmas super ritmadas marcando cada compasso do tambor. Em BH, tínhamos medo do suor respingar no público e incomoda-lo ainda mais. Em Santos, no momento do cortejo final, o público ficou de joelhos, numa forma de reverência. E, finalmente, em Campo Grande, no momento do depoimento pessoal, o Jair, oficineiro, engajado e apreciador de teatro (como ele mesmo se define) compartilhou o despir comigo.

Eu já estava no fim do depoimento, me despindo do meu personagem, quando o Jair fez o mesmo. É claro que fiquei surpresa e, por um segundo, sem saber o que fazer. Porém, não pensei duas vezes... lhe dei um abraço e o agradeci por compartilharmos aquele momento.
No fim da peça, fui conversar com o Jair. Falei que foi a primeira vez que uma pessoa do público havia tirado a roupa e o quanto aquilo foi importante para mim, para a história do grupo e do Diário. Jair me disse que ele não teve escolha... se sentiu entregue e convidado pelo espetáculo.

Maria Carolina Machado - atriz

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Aperto na boca do estômago




Aperto na boca do estômago! O que é isso? Ansiedade por entrar em cena? Expectativa de realizar um ótimo espetáculo? Emoção por tantos encontros? Infelizmente, não... Essa sensação, na verdade, de engodo, embrolho, enjôo e vômitos (melhor parar por aqui...) foram os sintomas de uma gastrointerite. Tudo começou na segunda (18/01), às 6:00 da matina. No domingo, apresentamos a última sessão do Diário do Maldito em Campo Grande e desmontamos o cenário. Desconfio que o que deflagrou o processo foram umas pizzas, que comemos, durante a desmontagem, mas a pessoa acometida por essa infecção contem o vírus muito antes dos sintomas se manifestarem. Bem, como já sofro de gastrite nervosa e andei comendo muita coisa diferente pelo Pará, onde passei férias, eu estava facinha, facinha...
De segunda (18/01) até quinta (21/01) foi uma via sacra por emergências de hospitais, soros e remédios na veia, comprimidos passados equivocadamente, insônia, dor, dor e dor. Um dos momentos mais desesperadores foi na viagem de Campo Grande para Cuiabá. Era por volta das 4:00 quando eu comecei a suar frio. Apesar do ar condicionado do ônibus, eu estava sentido tanto calor e falta de ar, que precisei tirar a roupa para ver se aliviava. Enquanto isso, A Celma e a Micheli me abanavam. A solução encontrada foi parar na cidade mais próxima e procurar um pronto socorro. Pois bem.... Chegamos em Rondonópolis. O ônibus parou na rodoviária da cidade e eu, Celma, Micheli e Francis pegamos um táxi rumo ao hospital mais próximo. O médico meio sonolento, que me atendeu, mandou eu tomar mais remédio na veia e ainda passou um pedido de exame de Dengue. Dengue!? Enquanto isso, chegou um bebezinho com sua mãe. Ele estava desidratado e tinha que receber soro na veia também. Meu Deus !!! Que visão e som do inferno!!! A mãe segurando o bebê e a enfermeira furando a criança várias vezes para ver se achava a veia e a agulha ficava no ponto certo. Logo em seguida, fui eu. O médico até me deu um remédio para dormir enquanto o soro pingava, mas com aquela cena do menino e choro ainda ecoando foi impossível. Depois de quase duas horas e com o dia amanhecendo retomamos a viagem.
O remédio foi apenas um paleativo. As dores voltaram e fui num gastro em Cuiabá, tive que fazer um hemograma completo, o que serviu para descartar algo mais sério. Porém, o médico foi bem categórico: Ou você fica de repouso se hidratando e se alimentando bem, pois leva de 1 a 2 semanas para o seu estômago e intestino começar a funcionar bem, ou vc faz as suas apresentações de teatro, fica comendo no hotel e na rua e volta a passar mal de novo. A intimação foi dada e eu não tive escolha. Gente, até parece um dramalhão!!! Eu chorei tanto do médico até o hotel, que é claro piorou a dor. Daí, liguei pra Ju, Francis e Ivone e achamos melhor eu voltar para BSB.
Bem, agora, estou na casa da minha mãe... Ia fazer uma endoscopia ontem, mas a minha médica achou por bem adiar o exame pois meu estômago já está muito agredido. Estou de repouso, tomando remédios (dessa vez corretos), o coração dolorido por não estar, na empreitada Centro-Oeste e torcendo pelo sucesso do meu grupo.
Concretos, obrigada pelas flores, pelas palavras, pela luz e energia.
Mi e Celma, obrigada pela força! Celma vc é uma mãezona! A Sara é que é feliz e bem sabe...
Francis e Ivone, obrigada pela compreensão. Se eu estiver melhor volto para fazer o Diário em Goiânia.
Ju, muita merda pra vc! Cheguei a sonhar com vc fazendo a Brasília e saiu tudo ótimo porque foi do seu jeito! Obrigada por topar mais essa!
Beijos, muita merda e evoé!
Maria Carolina Machado - atriz do Concreto.

Galeria de Fotos da turnê Centro-Oeste

A Partida


O encontro

O poeta

Brasília

O menino invisível

Cuiabá – Ruas Abertas – 21/01/2010. Problema: Como fazer a divulgação de uma intervenção? Solução: Ahá! Cartas de amor sendo entregues junto com todas as informações do grupo. Problema: Como serão entregues essas cartas? Solução: Opa! Menino de rua que em vez de pedir, oferece. Perfeito! Lá vou eu andando pelas ruas da cidade. Pés sujos, roupas rasgadas, unhas encardidas, cabelos desgrenhados, um saco velho na mão. Me senti parte da cidade. Daí vem o espanto. Problema: Por mais parecido com as outras pessoas que um menino de rua seja: dois pés, dois braços, um tronco, uma cabeça, um CORAÇÃO, ou por mais diferente que ele seja: suas vestes sujas, sua falta de comida, de moradia, de compania, de AMOR, eu andava pelas ruas e me sentia invisível! As pessoas estavam me vendo, mas fingiam não me ver. Será que é sempre assim? Como será ser ignorado a vida inteira por todos que te cercam? Eu senti isso durante alguns minutos. Algumas pessoas passavam e abaixavam a cabeça. Mudavam a direção. Fingiam não me ouvir. Ao me ouvirem dizer: “Toma, é pra você!” Muitos se sentiam invadidos. Não aceitavam a carta. Daí eu dizia: “Pode pegar. Eu não estou pedindo. Estou oferecendo!” o espanto daquelas pessoas só crescia. Aos poucos, com o tempo, percebendo que se tratava de um ator, as coisas mudaram. Acabava de me tornar um igual. Falavam comigo. Se eu não fosse um ator, nunca seria ouvido. Passaria. Só passaria por aquele lugar. Pergunta: Será que existe solução pra isso?
Rômulo Mendes - ator

Estreando: “Homem Árvore”

"Desce daí ô Teco-teco!". Ao ouvir essas palavras, caiu a minha ficha: Eu estou no Diário! Entrar em cena foi algo inexplicável. O Tumba, o papel, o lixo, a baba, a dor, o grito, o seio, o suspiro. Tudo que eu tinha visto tantas vezes, eu estava sentindo, estava dentro. Meu depoimento pessoal resume grande parte do que eu senti. Eu estava do outro lado. Nas seis vezes que estive como espectador, a cada uma, as sensações foram diferentes. Talvez, por esse motivo, eu tenha voltado tantas vezes. Fui desafiado. Agora eu teria que desafiar. No depoimento, momento de se despir, não só no sentido literal da palavra, mas também no sentido de se abrir, se entregar, expor "aquilo que grita dentro de mim", foi um momento de emoção inimaginável. O choro, a compreensão de quem me ouvia, me olhava, a identificação. Parecia que eu estava alí, na minha frente. Percebi que, de alguma forma, eu toquei aquelas pessoas com a minha simples história. E isso é lindo! Lindo de sentir! Uma goiabeira da minha infância, algo que até pouco tempo eu não sabia que estava guardada em minha memória, emocionou uma menina, que ao ouvir se identificou, chorou, me abraçou e me agradeceu. Depois, durante o encontro com os grupos locais de Campo Grande, fui batizado por ela mesma como "Homem Árvore". Alí senti o verdadeiro sentido da cena. Ainda tenho muito a desvendar e descobrir sobre o "maldito". Que venham as próximas apresentações!

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A cachaça do Concreto


Três estados , Três cidades , ufa!!! Haja cachaça para esquentar os corações e botar fogo nesse povo. Até agora foram gastos 11 litros de cahaça, 8 abacaxis e 06 quilos de açucar, para adoçar a alma dos que passam por nosso boteco, onde niguém compra lágimas até por que não vendemos. Gira Concreto que essa roda não pode Parar!

Gleide Firmino - atriz

Para Abraçar o Encontro





Nesse mundo imediatista ainda vejo possibilidades de parar o tempo e viver momentos de verdadeira troca. Troca de energia, troca de amor e de sensações que nos levam a uma entrega profunda e real, permitindo romper com nossas máscaras. É assim que me sinto em uma das últimas cenas do Diário do Maldito, onde trabalhos com momentos de depoimentos dos atores: a cada apresentação uma nova pessoa e consequentemente uma nova troca. Nas apresentações de Campo Grande, vivi momentos muito especiais. Uma jovem me procurou no final do espetáculo e perguntuou se poderia me dar um abraço. Comentou que havia assisitido a peça na noite anterior e como meu depoimento foi direcionado a ela, minhas palavras atravessaram seu coração e provocou uma imensa vontade de me abraçar, mas por acreditar que não podia tocar os atores, se conteve. Porém, ao ir embora a necessidade daquele abraço permaneceu e, segundo ela, bateu um desespero ao saber que o nosso abraço poderia se perder por esse mundo sem fim. Então, lá estava ela novamente, ao final de outra apresentação, diante de mim, pedindo timidamente um abraço. Nos abraçamos fortemente e por um longo tempo, juntas choramos no silêncio do nosso encontro. Foi um momento mágico e muito especial pra mim, que carregarei para sempre no coração. Confesso que foi um dos maiores cachês que já recebi, me senti tão gente de verdade!

Celma Ioci - atriz do espetáculo Diário do Maldito

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

TEATRO DO CONCRETO EM CUIABÁ PROGRAMAÇÃO

VEM AÍ....RUAS ABERTAS....
dias 21 e 22 as 18h nas proximidades da praça Alencastro ou praça Ipiranga
Intervenção Cênica nas ruas de Cuiabá
Teatro do Concreto de Brasília em parceira com a Confraria dos Atores de Cuiabá





Programação gratuita

21/01

18h - Ruas Abertas - intervenção cênica no espaço urbano em parceria com o grupo Confraria dos Atores. Local: proximidades da Praça Alencastro ou Praça Ipiranga

22/01

18h - Ruas Abertas - intervenção cênica no espaço urbano em parceria com o grupo Confraria dos Atores.Local: proximidades da Praça Alencastro ou Praça Ipiranga

20h - Inútil canto e inútil pranto pelos anjos caídos - leitura dramática – Sesc Arsenal

23/01

Uma sessão às 19h e outras às 21h - espetáculo “Diário do Maldito - SESC Arsenal

24/01 -

14h30 - Teatro em Debate - encontro com grupos locais e lançamento da revista“entrelinhaseConcreto”. No SESC Arsenal

20h - espetáculo “Diário do Maldito

Mais informações:

Isa Sousa – assessoria de imprensa em Cuiabá – (65) 8117 1946




terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Concreto no Centro-Oeste





Brasília, 13 de Janeiro, 21h. Concreto rumo à Campo Grande. Foram 14 horas de viagem abastecidas com “Amelie Poulain”, “Como água para chocolate” e “Aprendiz de sonhador”. Alguns cochilos, paradas para o xixi, o Pitanga num saco de dormir e a Zizi num cafofo embaixo do banco.

Campo Grande,14 de Janeiro, 14h. Almoçamos e fomos ao campus da UFMS, onde se encontra o Teatro Glauce Rocha. Capivaras, um belo pôr do sol e uma reserva ecológica Ilustram a paisagem.

Partimos para a montagem do Diário do Maldito, o belo teatro precisou de ser “enfeiado” com papéis picados, entulhos, muitos metros de fios e uma atmosfera de boteco. enquanto isso Maria, Nei, Jhony, Micheli, Gleide e Pitanga ensaiavam a leitura dramática do Inútil Canto e Inútil pranto dos anjos caídos.

No início da apresentação contamos com a presença de alguns morcegos, o que enriqueceu o contexto da leitura. Um dos momentos mais impactantes foi o final, as chamas e o teor contundente do texto geraram momentos de silêncio e inquietação na platéia. Um professor de direito nos pediu o texto do Plínio para trabalhar com a sua turma.

Dia 15, primeira apresentação do Diário. Tivemos uma estréia dentro da estréia, após participar 6 vezes do espetáculo como espectador, foi a primeira apresentação do Rômulo no papel do Gão substituindo o Robson. Estávamos ansiosos com a resposta do público e mais uma vez nos desdobrando para nos adaptar ao espaço. Tivemos uma outra estréia muito especial, A Ju está atacando de musicista nesta turnê, assumindo a percussão com a Regina suprindo a falta do Igor. Tudo ocorreu bem, tivemos uma grande surpresa. Pela primeira vez uma pessoa do público se despiu na cena da sala de milagres juntamente com os atores, foi uma surpresa muito boa e sincera.

Sábado tivemos também uma boa apresentação do Diário. No domingo dia 17, foi a vez do lançamento da revista Entrelinhas e Concreto e um debate com os artistas locais. Foi muito interessante a troca de experiências, conversamos um pouco sobre políticas públicas e o financiamento e manutenção do teatro na região Centro-Oeste. Contamos com representantes de grupos de Campo Grande, Cuiabá e Minas Geraes.

Na tarde de domingo nos preparamos para a nossa última apresentação do Diário. Já nos sentíamos bastante cansados e com um aperto no peito. trabalhamos muito nesses 4 dias entre apresentações, montagens e trocas, tudo tem sido bastante intenso. Procuramos ter sempre em mente a importância dessas ações e a nossa antiga vontade fazer uma turnê. As apresentações finais parecem ser sempre as mais profundas, os curtos momentos antes de começar a peça parecem únicos e infintos. Trocas de olhares, lágrimas e um coração acelerado nos trazem a certeza de que tudo isso vale muito a pena. muito amor no peito. Axé!





Sobre as invasões poéticas - Por Francis Wilker



O encontro com o público e artistas de teatro em Campo Grande foi por mim sentido com as cores da abertura e da generosidade.

Quando a gente faz um espetáculo por muito tempo, (no caso do Diário do Maldito, há quase 04 anos) dá sempre uma sensação que a emoção original do trabalho vai escorrendo pelas mãos como areia....é como se nunca mais fosse ter aquela força que tinha no início....talvez como os relacionamentos amorosos (risos). Então, quando a gente consegue apresentar e ver o jogo vivo com o público funcionar, as pessoas se envolverem, se emocionarem, se divertirem...o sentimento de gratificação pelo trabalho, por ter escolhido o caminho do teatro, por escolher fazer esse teatro que fazemos, o sentido de estar junto....tudo se renova, se oxigena...como as áreas verdes-vivas de Campo Grande. Aí, você começa a re-descobrir o espetáculo, ver aquilo que ainda pode ser aprimorado, a ter tesão novamente.

Acho que são esses os sentimentos que me tomam nesse primeiro trecho de nossa jornada pela região Centro-Oeste. O público foi muito aberto e participativo, se envolveu com todo o amor, violência e humor que há no Diário. Fomos abraçados, ou como alguns espectadores disseram no debate: "vocês nos pegam pelas mãos e dizem...vem com a gente", "o que vocês fazem é uma invasão, mas não é uma invasão violenta, é poética", "achei interessante como vocês conseguem falar de toda a violência que há na obra do Plínio com tanta leveza e poesia".

Acho que por enquanto é isso! O desejo de a invadir e ser invadido pela poesia viva do teatro.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010